quinta-feira, 26 de setembro de 2019

* O retorno a Campinas

Certamente foi pouco tempo que fiquei em Fortaleza. Seis meses.
Fui em aldeia indígena no meio da noite, fui a um baile na periferia da cidade! Muita gente, muita gente de todo tipo! Forró era o que mandava, mulher dançando com mulher, homem dançando com mulher...
Aracati, Aldeota, outras praias, não lembro os nomes. Conheci uma família de escultores de madeira, só primo, tio, irmão, gente boa.
Fui a muitos lugares, entrei no sertão, vi casas com gente morando! No meio do nada. Casas com a caiação branquinha. Arrumada, limpas, foto antiga da avó na parede, talvez foto da bisavó...
Construções feitas para atender comunidades. Lindas! Acabamento rústico porém funcionais. E como!
Eu vi.
Vi escolas simples, com chão de barro, querendo ter enciclopédia para ofertarem alguma informação para seus alunos...
Vi projeto de criação de camarão com o apoio do governo...
Deliciosos por sinal.
Hotéis maravilhosos! Festa na rua, festa comunitária da periferia, festa do vizinho que nunca acabava!
Foi muito bom.
Porém a grana acabou. Estava acabando... Tinha acabado.
Então fazer o que?
Voltar pra Campinas.
Comer novamente o salpicão da minha mãe! Cuscuz de sardinha! Pizza de sardinha...

* A morte do Toninho e queda das Torres Gêmeas

Eis que acordo logo de manhã, sob o calor de Fortaleza em pleno começo de sertão ou seja, a mais de 400 metros da praia rsrsrs mais, bem mais... Caucaia, Avenida Bezerra de Menezes, North Shopping, Pão de Açúcar... Enfim, a Da Elza. Dona da casa onde aluguei um quarto e banheiro para passar o tempo que precisasse ficar na cidade. Ela amanheceu o dia gritando:
- Tragédia! Tragédia! Mataram o prefeito da sua cidade!
Pensei comigo mesmo: o Toninho?
Ele fora meu professor na faculdade. Gostava dele. Era bom, justo.

***

Fui trabalhar. Uma reunião na Barsa. Eu estava procurando me fixar definitivamente em Fortaleza até então.
A reunião foi feita, acertado os pormenores, o chefe vê no computador e grita pra todo mundo:
-Olha aí, parece que os Estados Unidos foram atacados!
Tudo mundo para por um instante e quase que ao mesmo tempo inicia-se um despedir frenético para sair para o almoço.
Ufa, acabo!
Descemos, elevador lotado, fomos em um restaurante self service. Quando entrei no recinto, um silêncio e todo mundo olhando pra TV. Olhei para o monitor e vi uma das Torres gêmeas pegando fogo, fumaça saindo... a cena que todos que assistiram tem em mente.
Eu, na minha ingenuidade pensei: algum filme de ficção, mas esse silêncio, será que é real?
Logo é a segunda torre a ser atingida por um avião...
Fogo...

* O trabalho na praça

Não me lembro do nome da praça. Suponho que seja um nome fácil de se guardar ou lembrar... Lembro-me que passava muita gente no local, em um dos lados da praça ficava um imenso aglomerado de barracas, ordenadas porém com suas ruas estreitas e muitas, mas muitas mercadorias! Camisetas de time de futebol, bolsas, pimentas, sandálias, roupa de couro, chapéus... Muito grande!
Tão grande que nem me arrisquei a entrar com medo de me perder no meio... Fiquei de fora, só olhando...
No dia e hora marcados fui até a praça bem cedinho. O dia estava maravilhoso e eu estava muito empolgado.
Ao entrar na praça logo avistei o meu chefe, rsrsrs responsável pelo grupo de teatro... Um figura! Traços largos, sorriso largo, olhos de matuto. Seu nome já entrou no hall do esquecimento... Mais pra frente vou me lembrar. Voltando ao ocorrido, ele chegou até mim, nos cumprimentamos, falou-me para pegar as mensagens e começar a distribuir pra todo mundo, não deixar escapar um! Se chegar perto dá, se passar do lado, se abaixar, se levantar, se estiver respirando, se não também! E porque não?
E foi o que eu fiz.
Ficamos a manhã toda e o próximo dia distribuindo mensagem, conversando com pessoas, escutando algumas com seus dramas pessoais, uma repudiou o trabalho... Foi um momento único em minha vida.

*A incorporação de Bezerra

Um dia antes, era um domingo a tarde, fui convidado para participar de uma reunião de preparativo final, antes de se iniciar o trabalho.
Pois bem. Fui digerindo a ideia do que seria de tão importante que precisem fazer uma reunião no dia anterior ao trabalho entre outras questões.
Cheguei 15 minutos mais cedo como é de costume nas construção que foi-me apresentada como Federação Espírita de Fortaleza. Fui ficando e esperando chegar gente, bastante gente... Quando alguém convidou-nos a entrar, passei por uma porta e me deparei com um salão...
Entrando no salão, grande, poderia chamar de auditório com seu palco, muitas cadeiras. Dava pra colocar bastante gente no local. Calculo por volta de uns 300 ouvintes. Enfim, pediram-nos que afastassem as cadeiras e que fizéssemos um círculo com as restantes... Um círculo grande com talvez umas 100 pessoas!
Foi chegando mais gente, eu me acomodei em uma cadeira, os outros foram se acomodando nas demais e o círculo foi sendo completado. Creio que não sobrou lugar e até tiveram que colocar mais algumas cadeiras para os que chegaram em cima do horário...
A reunião teve início, várias pessoas tomaram a palavra dizendo coisas sobre o trabalho, estatísticas, preocupações... E ela foi se estendendo.
Eu, intimamente me perguntava o que estaria fazendo ali? Eu só queria aproveitar a oportunidade pra distribuir algumas mensagens, preencher um tempo que eu tinha de sobra enfim, minha dúvida era: que horas a reunião iria acabar??
Foi quando fomos convocados para a prece final. Todos os participantes levantaram-se, deram as mãos formando a maior corrente que eu tivesse visto até então e mesmo hoje, em minhas indas e vindas, ainda não vi.
Foi feita a prece final por um dirigente e antes do término, foi pedido para que todos continuassem com as mãos dadas e em silêncio por mais alguns instantes... Silêncio. Dava pra escutar a respiração dos vizinhos de cada lado...
Uma voz rouca, no início fraquinha, distante: agradeceu, falou de amor, evocou Deus, falou de amor, falou sobre pétalas de rosas caindo sobre nós enquadro estivéssemos no trabalho, falou daqueles que seriam beneficiados pelo trabalho... Falou com tanto amor que eu juro que eu pensei que fosse o próprio Jesus Cristo quem estava falando, mas não, claro que não era! Certamente alguém muito evoluído, nunca estive na presença de tão diferenciada vibração.
Conforme suas palavras, cada sílaba pronunciada, cada letra... Pareciam estarem no momento e no lugar certo onde estavam! E todas juntas produziam uma vibração em todas as fibras do meu corpo!
Percebi o vizinho da direita chorar, chorar convulsivamente, assim como quando o tronco balança teorias vezes quando se coisa de verdade.o vizinho da esquerda começou a chacoalhar também... Eu comecei a chorar também. Lágrimas rolaram e lavaram meu rosto. Não tinha como enxugar! Minhas mãos estavam ocupadas segurando as mãos dos meus vizinhos... E ele não parava de falar e quanto mais ele falava mais eu chorava, todos choravam!
Foi isso o que percebi quando terminou, abri meus olhos e praticamente todos estavam de alguma forma enxugando seus respectivos rostos, tentando disfarçar olhando o infinito... Eu era um deles.
O mais interessante: a entidade entrou, falou, comoveu, agradeceu, rodou a Deus proteção, foi embora e não disse o nome! Quem era?? Não falou uma vírgula sobre si. Foi embora.

* Turma do teatro

Passaram-se algumas semanas, conheci a turma do teatro... Eu deveria me lembrar do nome de cada um dos componentes pela importância que eles tiveram naquele momento de minha vida. Um foi muito especial comigo, Vandenberg. Quando fui embora deu-me uma caixinha SOS de costura! Tenho até hoje.
Com eles fiz o trabalho de mensageiro em plena praça de Fortaleza, debaixo de um sol escaldante! Sim! Escaldante com toda a dramaticidade que a palavra evoca!
Mas foi maravilhoso. Redentor... Mágico.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Sociedade João Evangelista

Creio que devo relatar um fato ocorrido no final do ano 2000, na cidade de Fortaleza CE.
Nessa época morei durante seis meses nesta cidade. 
Saí de Campinas para me afastar do mundo que havia criado, acreditando em uma possível fuga. Saí para não cometer um crime premeditado, para deixar pra trás lembranças infelizes e escrever uma nova história. Uma tentativa de mudança de vida que me possibilitou uma grande experiência. Uma experiência muito boa.
Como eu pretendia, passei os primeiros três meses refletindo sobre o que eu havia feito até então, fui à praia algumas vezes, sempre estava no North Shopping (principalmente para ficar sob o ar-condicionado!), fui a bares, botecos, enfim, fiz tudo aquilo que achava que deveria fazer. Bebi muita cerveja (quase que diariamente)... Trabalhei como desenhista Cadista, vendedor da Enciclopédia Barsa...
Porém, chegou um momento em que eu senti falta de dar um sentido mais profundo para a viagem, caso contrário seria um desperdício de tempo e dinheiro somente.
Foi quando comecei a me lembrar das casas espíritas que havia frequentado... A sensação de profunda paz que me invadia nas preleções, na vez em que fui numa casa e, tarde da noite, um médium incorporou um espírito com uma mensagem linda!
A casa era muito bonita, retirada da cidade, um lugar muito calmo e quieto... 
Assim, decidi procurar uma casa espírita, de preferência kardecista, que fosse pequena e simples.
Foi com essas intenções que um dia, não me recordo como, uma portinha me chamou atenção. Vi pessoas entrando por ela. Eu acabara de achar a casa que queria!
Informei-me quando tinha preleção e compareci no dia do trabalho seguinte.
Entrei pela primeira vez na casa, fui recepcionado por uma de suas trabalhadoras que por sua vez foi muito calorosa comigo. Simpatizei na hora com ela e foi recíproco. Perguntou de onde eu era, disse que era de Campinas, São Paulo, e ela me disse que era de Piracicaba! Tínhamos algo em comum: vínhamos de longe, não éramos de lá. Depois de algum tempo conversando perguntou se eu gostaria de trabalhar na casa! No que prontamente disse sim. Mas o que eu faria? Pensei comigo. E ela me explicou: pra cada pessoa que for entrar na casa você dará uma mensagem (um folheto impresso) cumprimentando com um "Boa noite, seja bem-vindo", procurando recepcionar da melhor forma possível quem ali entrasse.
Mais tarde fui saber que eu era um mensageiro. Minha função era entregar mensagem!
Ah! O nome da casa: SEJE - SOCIEDADE ESPÍRITA JOÃO EVANGELISTA.